O Ministério Público Estadual (MPE) notificou a Prefeitura de Cuiabá para revogar a cessão do miniestádio do Jardim Florianópolis, que foi reformado e estava em uso por uma organização criminosa investigada na Operação Apito Final, da Polícia Civil.
A investigação da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO) identificou que desde outubro de 2023, o espaço público – recentemente denominado pelo principal investigado da operação, Paulo Witer Farias Paello, o W.T – como Arena Floripa, é utilizado como forma de difundir e promover o nome dele.
A notificação recomendatória foi feita pela 11ª Promotoria de Defesa do Patrimônio Público e da Probidade Administrativa da Capital e Coordenadoria do Núcleo de Ações de Competências Originárias Criminal (Naco).
No documento, os promotores Mauro Zaque de Jesus e Carlos Roberto Zarour solicitaram também que o Município faça a remoção de todos os sinais, símbolos e marcadores do espaço onde constam o nome do time de futebol “Amigos W.T”.
“Que imediatamente retome a posse do imóvel para que o Município não permita mais o acesso de nenhuma dessas pessoas envolvidas nas investigações que apuram fatos gravíssimos. E que em cinco dias sejam retirados todos os sinais, símbolos e marcadores do espaço público que está com o time de futebol”, cita trecho da recomendação.
Investigação
De acordo com a investigação, o time foi constituído e é mantido com a finalidade clara e exclusiva de lavar o dinheiro proveniente do tráfico de drogas.
“O estádio, embora seja um espaço do poder público, aparentemente atende apenas aos interesses do investigado, que fez, inclusive, a abertura de pessoa jurídica relacionada ao seu time de futebol. WT é um amante do futebol, então ele queria esbanjar seu poderio financeiro construindo essa arena e fazendo ali, talvez, escolinhas de futebol, para continuar lavando o dinheiro”, observou o delegado Gustavo Belão, da GCCO.
As investigações apuraram que, além do uso do espaço público no Jardim Florianópolis, a organização criminosa começou a construir um centro esportivo no Jardim Umuarama, também na capital, um dos empreendimentos do líder criminoso que tinham Andrew Nickolas Marques dos Santos como “testa de ferro”.
O espaço ocuparia 10 lotes residenciais com a construção de dois campos de futebol, academia, lojas e lanchonetes.
Andrew, também preso na operação, foi identificado como peça fundamental para a organização criminosa chefiada por Paulo Witer, sendo um dos responsáveis pela compra e venda de imóveis e veículos para mascarar a movimentação do dinheiro do WT.
Apito Final
A operação foi deflagrada no dia 02 de abril, com a finalidade de descapitalizar a organização criminosa e cumprir 54 ordens judiciais que resultaram na prisão de 20 alvos, entre eles o próprio W.T.
A investigação apurou, no período de dois anos, que a organização movimentou R$ 65 milhões em bens móveis e imóveis adquiridos para lavar o dinheiro da facção.
aS transações incluíram a criação de times de futebol amador e a construção de um espaço esportivo, estratégias utilizadas pelo grupo para a lavagem de capitais e dissimulação do capital ilícito.
Outro lado
Em nota, a Prefeitura de Cuiabá afirmou que seguirá a recomendação do MPE e frisou que o espaço foi cedido para a Associação de Moradores do bairro Jardim Florianópolis. Leia na íntegra:
Quanto à notificação nº 001/2024 do Ministério Público do Estado de Mato Grosso, de 5 de abril de 2024, expedindo recomendações sobre o mini-estádio do bairro Jardim Florianópolis, em Cuiabá, a Secretaria Municipal de Governo esclarece:
– Inicialmente, cabe informar que o espaço está cedido para a Associação de Moradores do bairro Jardim Florianópolis; reiteramos que não existe nenhuma parceria ou qualquer tipo de associação para obras do mini-estádio;
– Seguirá todas as recomendações expedidas pelo Ministério Público do Estado de Mato Grosso, através da notificação nº 001/2024;
– Afirma ainda que irá manter o diálogo com os entes, com o intuito de manter a transparência e comprometimento com a integridade em todas as ações.