O ex-presidente Jair Bolsonaro negou ter participado de tentativa de golpe de Estado. Ao ser questionado pelo relator da ação, disse que “não procede a acusação”. Ele admitiu, no entanto, que discutiu com auxiliares e comandantes militares alternativas “dentro da Constituição” para tentar reverter o resultado das eleições de 2022, vencidas por Lula. Segundo o ex-presidente, não havia apoio suficiente para uma ruptura.
“Como nós fomos impedidos de recorrer ao TSE, com preocupação de uma penalidade ainda mais alta do que ocorrida (multa de R$ 22 milhões), aquela de, se não me engano, 23 de novembro, nós buscamos alguma alternativa na construção e achamos que não procedia e foi encerrado. Agora, em função disso, apesar dessas reuniões, a não ser essa, no dia 7 talvez aqui, todas as demais serem reservadas, eu, minha defesa, e dois ou três comandantes, mas o que estava tratado lá dentro ocorria solto. Então a gente lamenta, mas em nenhum momento eu, minha defesa, ou os comandantes de força, sequer pensamos em fazer algo ao arrepio da lei, o arrepio da nossa Constituição.”
O ex-presidente também disse que tratou com os comandantes de temas como protestos de caminhoneiros e aglomerações em frente a quartéis. Segundo Bolsonaro, a pauta era o uso de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) caso houvesse distúrbios.
Ao ser questionado pelo ministro Luiz Fux a respeito de suposta ameaça de prisão feita pelo então comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, Bolsonaro negou o fato. O episódio teria ocorrido depois uma série de reuniões de Bolsonaro com os comandantes das Forças Armadas, no Palácio da Alvorada, após sua derrota nas eleições.
“Não senhor, as forças armadas sempre primaram pela disciplina, pela hierarquia, então aquilo falado pelo brigadeiro Batista Júnior não procede, tanto é que foi desmentido pelo próprio comandante do exército. Se dependesse de alguém diferente para levar avante um plano ridículo desse, teria trocado o comandante da Aeronáutica, ninguém trocou comandante de ninguém, todos foram até o final e ninguém procurou para trocar comandante também não, não existia isso. Agora houve no meu entender um exagero por parte do brigadeiro Batista Júnior, o que eu entendi dele é que estava comigo até era presidente, quando perdeu o mandato ele já estava procurando uma acomodação em outro lugar”, respondeu a pergunta do ministro Luiz Fux.
Na semana passada, o ex-comandante da Aeronáutica Carlos Almeida Baptista Junior afirmou, em audiência no STF, ter participado de reuniões no Palácio da Alvorada em que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) discutiu uma minuta com teor golpista. Ao depor como testemunha de acusação na Primeira Turma da Corte, o brigadeiro confirmou ter presenciado o então comandante do Exército, Marco Antonio Freire Gomes, ameaçar o ex-presidente de prisão caso levasse seu plano adiante.
Bolsonaro também negou ter participação nos atos golpistas do 8 de janeiro e disse que não conhecia qualquer plano de prisão de autoridades.
Pedido de desculpas e tom ameno
Bolsonaro pediu desculpas ao ministro Alexandre de Moraes por declarações feitas no passado nas quais insinuava, sem provas, que integrantes do Supremo Tribunal Federal estariam envolvidos em corrupção durante as eleições.
A fala ocorreu após Moraes questionar sobre uma reunião com embaixadores, na qual ele havia sugerido que ministros da Corte poderiam estar recebendo propina. O ministro questionou “quais eram os indícios que o senhor tinha de que nós estaríamos levando US$ 50 milhões, US$ 30 milhões?”. Nesse momento, o ex-presidente afirmou não ter qualquer prova do que falou.
“Não tem indícios nenhum, senhor ministro. Tanto é que era uma reunião para não ser gravada. Um desabafo, uma retórica que eu usei. Se fossem outros três ocupando, teria falado a mesma coisa. Então, me desculpe, não tinha qualquer intenção de acusar de qualquer desvio de conduta os senhores três”, respondeu Bolsonaro.